CINEDIÁRIO

(RJ, 2004, cor, MiniDV, 22′)


 
 

SINOPSE: A rotina e o processo criativo de um cineasta que registra a mesma cena, no mesmo horário, por cinco dias consecutivos, através da janela de seu apartamento.

FICHA TÉCNICA: Direção, Produção, Edição: Marcelo Ikeda. Fotografia e Câmera: Luiz Pretti. Elenco: Felipe Nepomuceno.

APRESENTAÇÃO: Cinediário é um curta que reflete sobre o processo de criação do artista. Obcecado por uma imagem, um cineasta registra a mesma cena, no mesmo horário, durante cinco dias consecutivos, através da janela da sala de sua casa. O trabalho rotineiro do artista se revela a matéria-prima do processo de criação. Cinediário recusa as motivações psicológicas e a visão da criação como fruto da inspiração repentina, tratando a matéria fílmica como um processo materialista em que a transpiração se revela muito mais necessária que a inspiração.

DECLARAÇÃO DO DIRETOR: A maioria das obras que abordam o processo de criação do artista tendem a vê-lo como um excêntrico que, através do seu contato individual com pessoas ou situações peculiares, busca uma súbita inspiração para fazer sua obra de arte. O artista está envolto em uma aura romântica que torna o processo de criação quase como um dom divino. Em Cinediário, busquei o avesso dessa leitura romântica. Para esse artista, o processo de criação está intimamente relacionado com sua própria rotina diária que, de forma orgânica, se articula com seu próprio viver. Em seu mundo interior, ele encontra sua inspiração com um olhar para fora, através da janela. Mas este é apenas o ponto de partida de um processo íntimo e meticuloso. Aqui, não interessa as motivações psicológicas ou os devaneios do artista, e sim o processo em si de construção de sua arte, relacionado à repetição e à transpiração, o que torna Cinediário quase um conjunto de “variações em torno do mesmo tema”.

 
 

COMENTÁRIOS: Os Irmãos Pretti apresentaram para mim e para o Ivo Lopes Araújo um filme inesquecível: O Sol do Marmeleiro, de Victor Erice. Em seguida, o Ivo realizou um vídeo influenciado pelo filme, o Enquadros. Eu também quis fazer o meu, siderado pelas sequências iniciais do filme. Com isso, busquei fazer um trabalho de decupagem, sobre um extracampo que pulsa, e que nunca vemos. Uma outra forma de fazer um vídeo caseiro: um artista que cria em casa, que cria enquanto vive e vive enquanto cria. Nada mal. Este foi o primeiro vídeo que editei no meu próprio G3. Pude testar, mesmo que de forma embrionária, texturas sonoras diferentes para cada um dos dias. O ator foi o também realizador Felipe Nepomuceno, que foi muito gentil em aceitar participar (mesmo depois de relutar muito!): sua atuação é um achado!