LIVROS PUBLICADOS:
 
IKEDA, Marcelo e LIMA, Dellani. CINEMA DE GARAGEM: um inventário afetivo do jovem cinema brasileiro do século XXI. WSET Multimídia: Rio de Janeiro, 2011. ISBN 978-85-63357-03-8
 
IKEDA, Marcelo (org.). FILME LIVRE! – curando, mostrando e pensando filmes livres. WSET Multimídia: Rio de Janeiro, 2011. ISBN 978-85-63357-02-1
 
IKEDA, Marcelo. Lei da ANCINE comentada (Medida Provisória nº 2.228-1/01). Rio de Janeiro: WSET Multimídia, 2012, 148pgs. ISBN 978-85-63357-06-9
 
IKEDA, Marcelo e LIMA, Dellani (orgs.). Cinema de garagem: panorama da produção brasileira independente do novo século. Rio de Janeiro: WSET Multimídia, 2012. ISBN 978-85-63357-05-2
http://www.cinemadegaragem.com/download/catalogo-cinemadegaragem.pdf

 
 
TEXTOS CRÍTICOS:
 
O que se move.
Filmologia, n. 13 (Vol. 4, N. 2), 2013.
http://www.filmologia.com.br/?page_id=6921
  
Um cenário de mudanças e o porvir
In: KOGAN, Lis; VALENTE, Eduardo. (orgs.) Semana dos Realizadores: voos do cinema brasileiro contemporâneo. São Paulo: Klaxon Cultura Audiovisual, 2012, pg. 128-129.
http://www.semanadosrealizadoressp.com.br/wp-content/uploads/2012/12/miolo_SR_SP-web.pdf
  
E aí, perdeu?
(texto sobre o mercado de distribuição e o cinema brasileiro)
Jornal O Povo (Fortaleza) Caderno Vida e Arte, 24/06/2012, p. 6
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2012/06/23/noticiasjornalvidaearte,2863940/e-ai-perdeu.shtml
  
O jovem cinema brasileiro: notas de uma renovação
Diário do Nordeste (Fortaleza) – 11/03/2012 – Caderno 3, pg 6
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1113456
  
Novos percursos: um recorte sobre a produção cearense recente
Cine Cachoeira – Revista de Cinema da UFRB – Ano 2 n3 – dezembro/2011
http://www.ufrb.edu.br/cinecachoeira/2011/11/novos-percursos/
  
O jovem cinema contemporâneo brasileiro.
Revista Caipira n.31 – setembro/2011, p.17-22, Rio Claro.
http://www.4shared.com/document/TVY954gd/revista31imp.html
  
Uma arma perigosa
(texto sobre o papel da crítica cinematográfica)
Jornal O Povo (Fortaleza) – Caderno Vida & Arte, domingo, 04 de dezembro de 2011, p.8
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/12/03/noticiavidaeartejornal,2347638/uma-arma-perigosa.shtml
  
Os mil olhos do Dr. Pizzini
(texto sobre o filme 500 Almas, de Joel Pizzini)
Filme cultura n. 53 – janeiro/2011 – pags. 64-66 http://www.filmecultura.org.br/edicoes/53/pdfs/edicao53_completa.pdf
 
A crítica (o crítico) como um barco à deriva
(texto sobre a crítica de cinema, publicado no blog Doidos Por Cinema (07/09/2010)
http://doidosporcinema.wordpress.com/2010/09/07/critica-em-xeque/
 
A atualidade do cinema de Ozu
(texto publicado no catálogo da Mostra “Emoção e Poesia: o Cinema de Yasujiro Ozu” no Centro Cultural Banco do Brasil. 2010. p21-22.)
http://www.ozu.com.br/textos_004.swf
 
Carlota Joaquina: do mito à realidade
(texto sobre a importância do filme Carlota Joaquina na retomada do cinema brasileiro)
Jornal O Povo – Caderno Vida & Arte, domingo, 16 de maio de 2010, p.7
http://www.opovo.com.br/www/opovo/vidaearte/984175.html
 
Mostra Cinema Cearense Contemporâneo – Mostra SESC Cariri de Cultura 2010
(cobertura crítica da mostra de filmes cearenses)
http://mostrasescaudiovisual.blogspot.com/p/mostra-cinema-cearense-contemporaneo.html
 
 
Críticas – site Via Política
 
 
O Poeta e a Bailarina
http://www.viapolitica.com.br/cinema_view.php?id_cinema=136
(31/6/2008)
 
Ryuichi Hiroki
http://www.viapolitica.com.br/cinema_view.php?id_cinema=137
(27/06/2008)
 
Uma Carta
http://www.viapolitica.com.br/cinema_view.php?id_cinema=127
(18/5/2008)
 
Hiroshi Ishikawa
http://www.viapolitica.com.br/cinema_view.php?id_cinema=124
(28/4/2008)
  
PALESTRAS:
 
Cinema brasileiro anos 2000, 10 questões
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB/RJ) – Debate 06/maio/2011
“Ação entre amigos: opção, afirmação ou necessidade?”
Fábio Andrade e Marcelo Ikeda
http://www.revistacinetica.com.br/anos2000/debate06rj.php
 
 
ARTIGOS ACADÊMICOS:
 
PAR e PIQCB: uma análise dos mecanismos automáticos de fomento à produção cinematográfica brasileira.
In: Políticas Culturais em Revista – Vol. 5, No 1 (2012), pg. 170-186.
http://www.portalseer.ufba.br/index.php/pculturais/article/view/6051
 
Crônica de uma separação – as políticas públicas para o audiovisual e o estímulo à produção independente.
In: Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación (Revista Eletrônica Eptic On Line), vol. 14, n. 3, set/dez 2012, pg 27-47. Aracaju: Observatório de Economia e Comunicação (Obscom) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). (ISSN 1518-2487)
http://www.seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/531/445
 
O mercado cinematográfico brasileiro e a aliança entre o global e o local.
In: Revista GEMInIS, ano 3, n. 2, jul/dez 2012, p. 69–82. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos.
http://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/113/87
 
O art. 3º da lei do audiovisual e as políticas públicas para o setor audiovisual na “retomada”
In: Anais do I Encontro Internacional de Direitos Culturais – I EIDC (Fortaleza/Unifor – set/2012)
http://www.direitosculturais.com.br/ojs/index.php/articles/article/view/31/89
 
Uma análise das leis de incentivo fiscal para o cinema brasileiro sob a ótica da captação de recursos incentivados
In: Anais do III Seminário Internacional de Políticas Culturais – Casa Rui Barbosa/RJ – set/2012
http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2012/09/Marcelo-Ikeda.pdf
 
As Políticas Públicas Cinematográficas no Início dos Anos 2000: O Papel da Ancine no Tripé Institucional Previsto pela MP 2.228-1/01.
In: Anais do VIII ENECULT, agosto/2012, Salvador
Ver Anais do Evento
 
Estado e Cinema no início do século XXI: características de formação da ANCINE.
In: II Seminário Internacional de Políticas Culturais, 2011, Casa Rui Barbosa/Rio de Janeiro.
Ver Artigo
 
 
 
O nevoeiro, provisoriamente.
In: IKEDA, Marcelo e LIMA, Dellani (orgs.). Cinema de garagem: panorama da produção brasileira independente do novo século. Rio de Janeiro: WSET Multimídia, 2012, pg 153-164.
www.cinemadegaragem.com/download/catalogo-cinemadegaragem.pdf
 
Os contracampos de Não Amarás.
In: Revista dEsEnrEdoS – ano IV – número 14 – teresina – piauí – julho agosto setembro de 2012.
http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/14-Ensaio-Ikeda-NaoAmaras.pdf
 
Cinema e literatura: um exemplo de como os modos de produção fílmica podem influenciar as questões da adaptação.
In: Revista Fronteiras – estudos midiáticos, 14(1): 3-12, janeiro/abril 2012.
http://www.unisinos.br/revistas/index.php/fronteiras/article/view/fem.2012.141.01/738
 
Os filmes-diários de Jonas Mekas: as memórias de um homem que se filma.
In: Rumores, edição 11 | ano 6 | número 1 | janeiro-junho 2012, pg 220-232
http://www.rumores.usp.br/pdf/12.pdf
 
Silêncios e Paisagens Sonoras no Cinema Brasileiro Contemporâneo.
In: Cambiassu, ano XIX – nº 10, jan/jun 2012.
http://www.cambiassu.ufma.br/ikeda.pdf
 
 
Concentração e acentramento: duas facetas do cinema brasileiro contemporâneo. PAIVA, Samuel e DOLOSIC, Pedro (orgs.). Revista Universitária do Audiovisual (RUA): regionalização e globalização no campo do cinema e audiovisual. Volume especial: SOCINE Regional São Paulo. São Carlos: DAC/UFSCar, 2011, p 19-22.
http://www.ufscar.br/rua/site/wp-content/uploads/rua_projeto_site_completo.pdf
 
 
Paradoxos das políticas públicas para o setor cinematográfico e as características da ANCINE.
In: CÁNEPA, Laura, MÜLLER, Adalberto, SOUZA, Gustavo e SILVA, Marcel (orgs.) XII Estudos de Cinema e Audiovisual Socine – Vol. 1. São Paulo: Socine, 2011, p. 244-257.
http://socine.org.br/livro/XII_ESTUDOS_SOCINE_V1_b.pdf
 
Enfrentando Hollyworld
Le Monde Diplomatique n33, abril de 2010, p31
http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=669&PHPSESSID=2992afb2cd65c8594faad2ff286459fc
 
“Muito Falado e Pouco Visto”: perfil da distribuição do documentário brasileiro nas salas de exibição (1995-2008). In: PAIVA, Samuel; CÁNEPA, Laura; SOUZA, Gustavo (orgs.). XI Estudos de Cinema e Audiovisual. SOCINE – Sociedade Brasileira de Estudos do Audiovisual. São Paulo, 2010, p 540-556.
www.socine.org.br/livro/XI_ESTUDOS_SOCINE_b.pdf
 
Distribuição de longas-metragens brasileiros a partir das leis de incentivo (1995-2007): um panorama. In: FABRIS, Mariarosario et alii (orgs.). X Estudos de Cinema e Audiovisual SOCINE 2008. São Paulo: SOCINE, 2010.
www.socine.org.br/livro/X_ESTUDOS_SOCINE_b.pdf
 
 
PALESTRAS:
 
Panorama da distribuição dos filmes brasileiros
Ciclo de Conferências “Cinema Brasileiro: Desafios Culturais e Econômicos
Marcelo Ikeda e Carlos Augusto Calil – CineSesc/SP – 14/12/08
http://www.blinkx.com/watch-video/panorama-da-distribui-o-dos-longas-metragens-brasileiros-a-partir-das-leis-de-incentivo/XIlofHFe-jVWU8pcbbLMxA
 
“O Audiovisual como Elemento de Desenvolvimento Econômico”
FestFilmes – Festival do Audiovisual Luso Afro Brasileiro, 08/11/2012
Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, Fortaleza/CE.
http://www.ustream.tv/recorded/26821122 
 

 
 

“Filme Livre!: curando, mostrando e pensando filmes livres” é um livro comemorativo dos dez anos da Mostra do Filme Livre, lançado em março de 2011 no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ), durante a Mostra do Filme Livre. O livro é uma coletânea de textos publicados nos catálogos anteriores da Mostra, contendo reflexões e debates sobre os rumos do cinema independente ao longo desta década, além de textos sobre os filmes destacados na Mostra e sobre os “autores livres”, que tiveram retrospectivas de suas obras no evento. Através dessa coletânea, é possível ver, ao longo dos dez anos de Mostra, um caminho de um cinema independente brasileiro na primeira década do novo século. Organização: Marcelo Ikeda.

 


 
 

Segue abaixo o texto de introdução do livro, intitulado “Plantando Sonhos”

Em 2011, a Mostra do Filme Livre completa dez anos, justamente num momento em que a produção audiovisual brasileira independente alcança grande visibilidade, coroada pela premiação no Festival de Brasília de O Céu Sobre os Ombros, de Sérgio Borges. É como se essa premiação representasse simbolicamente a “ascensão ao trono” de uma nova geração, que ganha o principal prêmio do mais tradicional festival de cinema do país. No entanto, essa geração, essa “novíssima cena”, não é tão “novíssima” assim: ela se confunde com todo um caminho muito mais remoto, mas que podemos considerar que se deu numa nova configuração ao longo dos últimos dez anos. Nesse sentido, é importante observar como esse novo caminho pode ser visto numa complementaridade entre dois pontos: uma nova forma de produção e novas possibilidades de difusão.

De um lado, essa nova geração encontrou novas possibilidades de expressão com as tecnologias digitais. Cada vez mais, tornava-se possível realizar um bom filme com meios praticamente amadores. No entanto, esses videos produzidos não conseguiam ser exibidos nos festivais de cinema do Brasil, que, no início deste século, ainda privilegiavam obras em 35mm. Estas, para serem produzidas, eram muito custosas, dependendo, portanto, dos editais publicos para sua realização. Isso configurava um circuito de produção e circulação: obras em 35mm que circulavam nos festivais, e que, para poderem existir, precisavam ganhar editais, ou seja, obras pré-formatadas. Não é que essa configuração também não tenha gerado grandes curtas e apontado para grandes realizadores, mas tornava mais restritas as possibilidades de expressão audiovisual. Do mesmo modo, para chegar ao seu primeiro longa-metragem, era preciso que o realizador tivesse formado um “currículo”, ganhando diversos prêmios com seu curta 35mm nos principais festivais de cinema do país, conquistado a simpatia de uma empresa produtora, para que inscrevesse seu projeto de longa nos poucos editais federais que abriam possibilidades para estreantes, notadamente o da Petrobras e o de Baixo Orçamento do MinC, especialmente este último. No entanto, a cada edição do “BO” eram contemplados apenas quatro ou cinco projetos, e a demanda era muito grande, havendo ainda uma necessidade de divisão por regiões e a eterna política de atender aos gostos singulares dos jurados de cada comissão. Assim, grandes realizadores, mesmo com inúmeras premiações nos festivais de cinema no país, demoraram dez anos (ou mais) para realizarem seu primeiro longa. Entre eles, podemos citar Gustavo Spolidoro, Paulo Halm, Phillipe Barcinski, Kleber Mendonça Filho, ou outros como Eduardo Nunes e Camilo Cavalcanti, cujos primeiros longas contemplados pelo BO ainda não estão concluídos.

Ou seja, uma transformação da tecnologia (ou da técnica) despertava novas possibilidades, mostrando um novo modo de produção, abandonando a dependência de um certo modelo de financiamento, e apontando a necessidade de uma nova forma de circulação dessas obras. O circuito fechado começava a se abrir, a se ampliar para novas perspectivas. Uma série de videos – baratos, radicais, marginais – começava a ser produzido nos cinco cantos do país, mas não conseguia circular. Não é à toa que nesse momento houve uma profusão da criação de cineclubes. Nesse período, no Rio de Janeiro, um dos mais importantes cineclubes pioneiros foi a mostra “o que neguinho tá fazendo”, realizado na Fundição Progresso, na Lapa, que começou em 1999. O cineclube era essencialmente um ponto de encontro dessa nova geração, que trocava ideias, fumaças, afetos, exibia seus filmes e pensamentos, e conhecia outras pessoas para juntos realizarem novos projetos. Ou seja, os cineclubes geravam encontros, que geraram trocas, racionais e sentimentais, que geraram mais filmes, e mais encontros e mais trocas, de modo que esse circuito foi ganhando uma força inesperada, que crescia de forma orgânica. Surgia uma curiosidade em tocar os limites de algo que não se sabia muito bem o que era, mas surgia essencialmente de uma insatisfação diante de um embolorado rumo das coisas e de uma necessidade de colocar para fora uma nova visão de mundo: por isso, eram filmes confusos, estranhos, de descoberta, que misturavam bitolas (do Super-8 ao VHS) e referências (do pop ao punk, da vida das ruas ao “intelectualismo acadêmico”, de Debord ao sexo explícito da Boca), num grande caldo de raiva e desejo, insatisfação e maravilhamento. Essa era a forma política possível de uma geração mostrar a sua cara, uma forma política diferente dos debates da “identidade cultural de um país” lá dos anos sessenta, mas, no início deste novo século, parecia ser a forma possível de falar do mundo. Um olhar precário, confuso, difuso, entediado, mas de alguma forma era um olhar que mostrava uma pulsão diante das novas possibilidades de encontro que o audiovisual vinha possibilitando.

Foi nesse contexto que surgiu a Mostra do Filme Livre, no Centro Cultural Banco do Brasil, em janeiro de 2002. Foi a primeira mostra de audiovisual, com funcionamento e estrutura regulares, que deu espaço a essa produção radicalmente independente, exibindo, na mesma sessão, filmes de diferentes bitolas, coisa que hoje é mais do que fato consumado, mas que lá em 2002 eram só os visionários “doidinhos” da MFL que precisavam convencer os projecionistas que era preciso ligar e desligar os diversos projetores da casa numa mesma sessão…

Desse modo, a Mostra do Filme Livre ofereceu um espaço para as novas obras audiovisuais que eram produzidas nesse novo contexto e que não conseguiam abrigo nos festivais de cinema do país, ainda voltados para uma outra lógica de circulação, os “grandes e importantes curtas com uma estrutura de produção”. Esses festivais, com uma lógica mais tradicional, carregaram consigo o longínquo fardo da necessidade de corroboração de um processo de “retomada do cinema brasileiro” que, mesmo com todas as iniciativas governamentais, centradas nas leis de incentivo, continuava patinando na necessidade de ocupação de um mercado dominado pelo produto hegemônico estrangeiro. Por isso, caíam na doce ilusão de tentar mostrar que o cinema nacional era “forte” e “bem feito”.

Mas havia um outro cinema que acrevitava na precariedade como potência e via no processo, e não necessariamente no produto final, um dos pontos-chave de uma nova forma de produção, menos hierarquizada e mais flexível, dialogando com o documentário e com a videoarte, que via uma relação de cumplicidade entre o cinema e o mundo, entre a criação e a vida. Ao longo desses dez anos, essa geração “tomou corpo”, fortaleceu-se, diversificou seu processo criativo, amadureceu, de modo que hoje é possível afirmar que constitui uma nova cena, ou ainda, uma nova geração. Dos primeiros curtas-metragens em vídeo, foi crescendo a certeza de que também era possível fazer longas-metragens com o mesmo espírito criativo, com o mesmo modo de produção. O tabu do “primeiro longa” foi reduzido: nos últimos anos, um conjunto de longas-metragens foi produzido ou sem nenhuma grana estatal ou com orçamentos menores que R$200 mil. Entre eles podemos citar: Estrada Para Ythaca (Guto Parente, Luiz e Ricardo Pretti, e Pedro Diógenes), A Fuga da Mulher Gorila (Felipe Bragança e Marina Meliande), Meu Nome é Dindi (Bruno Safadi), Sábado à Noite (Ivo Lopes Araújo), Pacific (Marcelo Pedroso), Acidente (Pablo Lobato e Cao Guimarães), Um Lugar ao Sol e Avenida Brasília Formosa (Gabriel Mascaro), A Casa de Sandro e Chantal Akerman, de Cá (Gustavo Beck), entre tantos outros, com grande repercussão crítica nacional e com participação em grandes festivais internacionais, como Locarno e Rotterdam.

Há dez anos, no entanto, pregava-se no deserto. Se hoje os nomes de Cao Guimarães, Helvécio Marins, Marcellvs L., Gustavo Beck, Irmãos Pretti, Ivo Lopes Araújo, Sérgio Borges, Bruno Safadi, Marco Dutra, Marília Rocha são nomes recorrentes, quem conhece curtas como Nanofania, Alma Nua, Dentro de Mim Mora um Anjo, Hera, Amador, Enquadros, Através, Na Idade da Imagem ou Projeção nas Cavernas, Notívago, Busílis, e tantos outros? Onde esses filmes foram exibidos? Certamente, na Mostra do Filme Livre, e diria, em muitos casos, apenas na Mostra do Filme Livre. Ou seja, a MFL, mais do que colher os frutos, sempre se procupou em plantar as sementes, abrindo portas para os primeiros filmes, valorizando os primeiros passos daqueles que vêm se dedicando a uma pesquisa de linguagem sobre a produção audiovisual contemporânea. Além desses nomes, que hoje conseguem um reconhecimento de seu trabalho, a MFL se orgulha também de exibir raros filmes que ainda não obtiveram seu devido e justo reconhecimento, como os longas de Dellani Lima (Sobre o Amor em Tempos Difíceis, O Sonho Segue Sua Boca), Ermo (Salomão Santana), Harmonia do Inferno (Gui Castor), os meus próprios longas caseiros (Em Casa, Desertum e Êxodo), além de tantos outros curtas e médias metragens, que ainda se mantêm à margem de um circuito oficial de legitimação, mas cujo trabalho vem sendo descoberto, ainda que bem mais lentamente.

Uma das características da Mostra do Filme Livre é rechear o catálogo de cada ano com textos e reflexões sobre seus múltiplos olhares. Nesta coletânea de textos, é possível ver que os olhares dos curadores da MFL não são homogêneos, mas apontam para várias tendências que são complementares, que não hesitam em esbarrar em tensões, paradoxos e conflitos. Pois a Mostra nunca procurou legitimar-se através da consolidação de um certo circuito, mas ampliar os olhares, em buscar fazer dialogar tendências díspares, heterogêneas: das retrospectivas de autores veteranos e mais jovens, dos filmes trash à videoarte, do pop irreverente às tenazes pesquisas de linguagem, ou, como gosto de dizer, do zen ao punk. A pluralidade de olhares da MFL tornou mais difícil o seu reconhecimento imediato por um certo circuito crítico mas garantiu sua independência exatamente por não se satisfazer em implantar modismos, mas abrir-se para olhares múltiplos, difusos, renovados. Ainda que não tenha o reconhecimento (e o orçamento) de tantas outras mostras de audiovisual no país, é inegável que a Mostra do Filme Livre contribuiu, ao longo desses dez anos, de forma significativa e contínua para a consolidação dessa cena de renovação do atual cinema brasileiro. Plantamos sonhos (como se isso fosse possível…) sem a necessidade de colhê-los. E temos um baita orgulho disso!!!! Vida longa à Mostra do Filme Livre!!!

Marcelo Ikeda.
 
 

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“Cinema de Garagem: um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do século XXI” é um livro escrito em parceria com o realizador e curador mineiro Dellani Lima, que apresenta um primeiro mapeamento das características do chamado “novíssimo cinema brasileiro”. Foi lançado em janeiro de 2011 na Mostra de Tiradentes.

“É possível afirmar que 2010 foi um ano paradigmático na renovação de um cinema brasileiro. Podemos escolher dois acontecimentos-chave que simbolizaram esse momento: o primeiro, logo no início do ano, e o segundo, já em seu final: a premiação de Estrada Para Ythaca e de O Céu Sobre os Ombros nos Festivais de Tiradentes e de Brasília, respectivamente. Essas premiações – mais do que meramente legitimar o valor ou a importância dos filmes – funcionaram para dar visibilidade a uma produção que agora recebe destaque mas que na verdade possui uma trajetória muito anterior aos prêmios, que ainda permanece subterrânea, desconhecida. Se os festivais e a crítica brasileiros começam a reconhecer o amadurecimento dessa cena, é importante destacar que esse movimento de renovação do cinema brasileiro não está começando agora, mas que na verdade esses são os frutos de um processo que dura pelo menos dez anos. Esta publicação, carinhosamente intitulada de CINEMA DE GARAGEM, pretende apresentar um primeiro inventário do perfil dessa nova cena. Evidentemente, não temos a pretensão de “dar conta” da miríade de realizadores, tendências, características e filmes que surgiram nesse período, mas apenas apresentar exemplos da vitalidade dessa produção.”

Para baixar gratuitamente o livro “Cinema de Garagem” veja o fim desse post aqui

MATÉRIAS E ENTREVISTAS

Matéria Site Cineclick

Texto Heitor Augusto

Entrevista com os autores

 Entrevista com os autores – Festival Cineesquemanovo – Porto Alegre

 Resenha do livro por Carlos Alberto Mattos

 Resenha do livro na Revista Filme Cultura n. 54

 Site Overmundo – Inês Nin

 
 

Cinecasulofilia é um blog mantido por Marcelo Ikeda desde junho de 2004. Mais que um blog de críticas de cinema, nele o autor apresenta reflexões sobre o cinema, seu próprio processo criativo e outras criações, como por exemplo, poemas. Trata-se mais propriamente de um diário pessoal mediado pelo cinema. Com isso, o autor desenvolve um olhar bastante particular sobre a crítica cinematográfica, oferecendo uma análise menos técnica e mais íntima dos filmes assistidos.

 


 
 

Para acessar o blog “Cinecasulofilia” clique aqui

 
 
 
 

RESENHA SOBRE O BLOG

 
 

Resenha blog por Carlos Alberto Mattos – Filme Cultura n.50